terça-feira, 22 de setembro de 2020

Conto - A Bienal (Concurso)

 Olá!

A minha participação no concurso literário sobre contos ambientados no Brasil do Grupo Fábrica de Histórias.

Título: A Bienal
Número de Palavras: 1.075 Palavras
Autora: Juliana Dindarova
Sinopse: Bruna é uma autora portuguesa publicada que foi convidada para uma sessão de autógrafos na Bienal do Rio de Janeiro. É um país novo para ela, mas Bruna conheceu alguém muito especial nas redes sociais que vai finalmente conhecer pessoalmente.




Finais de Agosto. Bienal do Rio. Que emoção! Os meus pais levavam-me para o aeroporto da Portela, em Lisboa. Durante toda a viagem de automóvel ninguém falou. Estavam uns vinte e seis graus em Lisboa e tudo aquilo que eu sabia do Brasil era que o país sofria de um tempo tropical. Mesmo no inverno, imagino algo quente.
Ao sairmos do carro e chegarmos ao aeroporto, abracei os meus pais. O meu pai, frio como sempre, só me deu um abraço rápido e desejou-me boa sorte.
A minha mãe abraçou-me em seguida e parecia chorar. Ela é uma querida! Confesso que achava estranho esse casamento dos meus pais. Eles eram tão diferentes. Mas, ao mesmo tempo, completavam-se. Estão casados há mais de vinte e cinco anos e penso que são um casal feliz. O amor que os dois tinham um pelo outro não tinha desaparecido desde o tempo da faculdade. Admito que gostaria de viver um amor assim, mas acho que sou fria o suficiente para não me apaixonar dessa forma. É uma história muito conto de fadas e no meu caso não faria sentido a rapariga ser a pessoa fria. Fiquei com este pensamento enquanto via a diferença das suas emoções.
Finalmente embarquei no avião que me levaria ao Brasil.

***

Algumas horas depois estava no Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa. A única coisa que eu pensei nas últimas cinco horas foi em como seria a Bienal. Será que teria muita gente? Será que iriam querer conhecer-me? Confesso que estava realmente ansiosa e curiosa para conhecer tudo. Reparei que a temperatura tinha subido, não podia negar. Devia estar uns trinta graus, possivelmente. Olhei para um papel à minha frente. Tinha imprimido em Portugal com todas as instruções. Iria viver numa rua da Barra da Tijuca e iria para a Bienal de carro com a ajuda de uma pessoa da organização. Tenho a certeza que vou me perder aqui. Isto é enorme.
Cheguei à minha rua de táxi e me instalei. Quatro horas de diferença e ainda faltava para a hora do jantar. Dormi um pouco... Bem, na verdade, dormi demais. Acabei por dormir por dez horas. Ao ligar o telemóvel, percebi que me tinha esquecido completamente de ligar aos meus pais a dizer que tinha chegado bem. A minha mãe, quando me atendeu, estava com uma voz desesperada. Coitada! O meu pai também não parecia muito contente. Terminei a chamada depois e fui fazer tempo para que chegasse a manhã. Comi num cafézinho da esquina e esperei pelo email da organização para saber onde nos encontraríamos. Às 9 da manhã ele chega ao café. Era um homem alto, moreno, que devia andar pelos seus quarenta anos. Deu-me um aperto de mão e sentou-se à minha frente numa cadeira.
– Obrigada por ter aceitado o convite. Os leitores vão amar.
– Eu é que agradeço.
Ele pediu um café ao garçom.
– É uma das nossas autoras convidadas, o seu livro foi um dos mais vendidos por aqui. De onde veio tudo isso?
– Sei lá. – Eu encolhi os ombros, enquanto sorria, envergonhada.
– Mas, tudo bem, os leitores já farão essas perguntas todas e vai ter tempo para pensar no que responder.
Eu sorri, mas eu nem sabia o que responder. Terá sido divulgação da editora? Não sei, mas sei que dei uns bons euros para isso.
Uma hora depois estávamos na Bienal. Ele tinha me levado de carro, tal como combinado. Meu Deus! Tanta gente! Eu sabia que ia me perder no país, mas não pensava que seria concretamente na Bienal. Isso é enorme!
A minha hora dos autógrafos chegou meia hora depois. 10:30. Iria durar uma hora. Surgiram uns novos leitores, enquanto autografava e contava como tudo tinha começado lá em Portugal. A meio dos autógrafos pude reconhecer uma pessoa. Pessoalmente é um pouco diferente, mas o rosto era semelhante. Eu conhecia aquela pessoa pelas redes sociais. Era a minha leitora brasileira. Era aquela que tinha começado lá no início comigo e que me viu (virtualmente, claro) a lançar livros. Abri um sorriso quando vi ela a aproximar-se.
– Bruna! – Ela cumprimentou-me.
– Olá, Andressa! – Respondi.
Ela quis aproximar-se mais para me dar um abraço e, finalmente, conhecemo-nos pessoalmente. Foi muita emoção. Tantos anos de amizade virtual, tantos anos de conversa virtual para chegarmos aqui. À Bienal.
– Estou muito feliz por estar aqui. – Ela falou.
– E eu? Como é que eu estou? É muita emoção!
– Fui eu que andei aqui divulgando para todo o mundo aqui no Rio.
– És a minha leitora número 1.
– Ah, eu sei! – Ela riu-se. Eu também. – Cadê o meu autógrafo de leitora número 1? De fã número 1, na verdade.
Eu ri.
– Ah, que não falte nada para a minha leitora favorita. – Voltei a sentar-me e abri a capa do primeiro exemplar que eu vi.
– Ah, sim. Devo ser. – Ela fez de conta que não acreditou nas minhas palavras.
Autografei, deixando uma dedicatória bonita. Ela sorriu. Ainda falámos um bom tempo. Quando terminou a sessão de autógrafos, ficámos ainda a passear na Bienal.
– A gente sempre teve esse sonho de se encontrar em algum lugar, em algum dos países. – Ela comentou.
– Sim. Há quantos anos a gente se conhece?
– Há uns 10 anos nas redes sociais. É muito tempo já.
– Na época ainda existia o MSN.
Rimo-nos.
– Bons tempos! – Comentei.
– E ainda havia a época gold do Blogger que hoje praticamente morreu.
– Mas os templates ficaram melhores com o tempo.
– Isso é piada. Na época gold do Blogger a gente para ter um template bonito tinha que saber mexer no html e nessas coisas todas em que se a gente mexesse demais ainda excluía o blog da pesquisa do Google, hoje há templates lindos, mas tem pouco público.
– A gente não pode ter tudo na vida. – Rimos porque sim, a gente não podia ter tudo na vida.
Ela mudou de assunto.
– Gosta do Rio?
– Pouco vi ainda. Adormeci mal cheguei aqui.
Ela riu-se.
– Ainda vai estar muito tempo por aqui?
– O tempo da Bienal.
– Ainda são alguns dias.
– Sim.
– Eu vou te ajudar a conhecer o Rio. Te faço uma visita guiada.
Eu sorri, agradecendo.
Acabei por ter alguém para me ajudar com a minha estadia no Rio de Janeiro. Foi curta, mas muito bonita e inesquecível. Nunca irei esquecer deste dia. Na volta para Portugal, voltei a falar com a Andressa nas redes sociais. Agora a gente já se conhecia pessoalmente. E éramos agora realmente amigas, se é que já não éramos antes.

sábado, 18 de julho de 2020

Conto - Carta à Neta (Concurso)

Olá!
Reavendo o blogue para puder participar do concurso literário do grupo Fábrica de Histórias.


Título: Carta à Neta
Número de palavras: 529 Palavras
Autora: Juliana Dindarova
Sinopse: Margarida escreve cartas à sua neta. Orgulhosa, vai contando algumas histórias da vida dela. Desta vez, o papel continha o seu nascimento. As dificuldades que ela passou para nascer.

Capa do Conto

Esta é a história da meu nascimento, minha querida neta, e vou escrever-te neste papel.
Nos anos quarenta os meios para detetar uma gravidez eram ainda muito rudimentares. Não havia aquelas coisas que temos agora com máquinas. Muitas vezes, os médicos colocavam a cabeça na barriga das mães para perceberem as batidas cardíacas das crianças dentro delas.
O meu nascimento também não foi muito diferente. Ao que parece o médico, até ao sétimo mês, não detetou que a minha mãe estava grávida. Naquele momento, ela tinha sido diagnosticada com um tumor no estômago.
A verdade é que, ainda na barriga da minha mãe, tinha ouvido dizer pelos meus pais que naquela altura não queriam ter mais filhos e que talvez viessem a ficar apenas com os meus dois irmãos, uma menina e um rapaz. Ela com dois anos e ele com seis.
Assim que ouvi essa conversa entre eles, ainda um feto, decidi ficar quietinha, não fosse a minha mãe pensar em fazer alguma coisa, porque não existia o nome de aborto naquela altura, mas acontecia. Na verdade, também não existiam pílulas ou quaisquer outras coisas, então prevenir uma gravidez também era meio impossível.
Fiquei quietinha e enroladinha e sossegada de modo a que a minha mãe não sentisse qualquer movimento e o estetoscópio do médico não ouvisse o meu coração a bater. Assim quietinha passei sete meses.
Um dia ouvi o médico dizer que a barriga tinha crescido e que por isso iria operar a minha mãe. O tumor estava gigante, dizia ele.
Fiquei em pânico e nessa altura mexi-me tanto a pedir socorro que o médico foi chamado às pressas numa noite e para surpresa de todos, exclamou: "Você está grávida, estou a ouvir um coração, não é nenhum tumor, mas um bebê! Parabéns, vão ser pais pela terceira vez".
Os meus pais ficaram felizes e eu também porque percebi que não haveria risco de aborto naquele momento. Tinha valido a pena o meu sacrifício.
Eles chegaram a casa todos felizes e contaram aos meus irmãos. O de seis anos ficou feliz, a mais pequenina ainda era pequena demais para entender algo, mas sorriu ao saber que a nossa mãe estava grávida.
Nasci no dia 20 de Dezembro de 1940, quase perto do Natal, quase como um presente. O meu irmão queria que eu fosse Matilde, mas ninguém quis aceitar, a minha madrinha queria que eu fosse Maria João, mas ninguém quis aceitar, o meu pai quis que fosse Marisabel, mas no Registo não quiseram aceitar e então ficou decidido que o meu nome seria Margarida. Curiosamente, todos os nomes possíveis começavam pela letra M.
Desse modo começou a minha vida que já dura uns longos anos. Uma vida que como todas as outras teve e tem coisas boas e más.
O que te posso dizer, querida neta, é que valeu a pena ter-me escondido no ventre da minha mãe durante os sete primeiros meses da sua gravidez. Isso fez-me uma mulher forte, uma idosa forte. E tu, minha neta, sei que serás tão forte quanto a avó.
Espero que esta história te inspire a nunca perderes o teu rumo na vida. A avó ama-te querida. Beijinhos.

Microconto - Gotas de Chuva (Desafio)

Olá!
Reavendo o blogue para puder participar do concurso literário do grupo Fábrica de Histórias.

Título: Gotas de Chuva
Número de palavras: 32 Palavras
Sinopse: Um casal termina a sua vida cheia de riqueza. Chegou a hora da morte e mesmo após isso eles caminham juntos, lado a lado, pelas gotas de chuva.
Autora: Juliana Dindarova
Microconto baseado na música: Between The Raindrops: Lifehouse Ft Natasha Bedingfield
Clipe:



Caminhando pelas gotas de chuva vamos eu e você. A vida passou pela gente cheia de riqueza. Agora é tempo de partir, juntos. Me leve agora para o nosso caminho da eternidade.